POR QUE A CRIANÇA NÃO DEVE RESPIRAR PELA BOCA?

O ar, para os humanos, é como a luz do sol para uma árvore. Respirar é necessário para a vida. Quando uma árvore recebe a luz do sol somente de um lado, o tronco e os galhos tendem a se dirigir para o lado ensolarado. Essa adaptação causa uma inclinação da árvore em direção à luz do sol, que é fundamental para sua sobrevivência. E, com o passar do tempo, essa deformidade se torna permanente.

Quando há algum bloqueio na passagem normal do ar, ocorre uma adaptação do corpo. Como acontece com a árvore que se curva para a luz do sol, o nosso corpo sofre um processo de adaptação para que possamos respirar pela boca. A língua, que normalmente se localiza no palato duro (céu da boca), passa a ficar no soalho da boca, a fim de permitir a passagem do ar. Quando a boca se abre, todos os músculos que controlam a cabeça, o pescoço e a mandibula devem se adaptar. Conseqüentemente, haverá um desenvolvimento anormal dos músculos e dos ossos da face. Quanto mais cedo essa adaptação ocorrer, maiores serão as alterações no desenvolvimento da face.

O cuidado com o desenvolvimento da face deve iniciar-se ao nascimento. Cerca de 80% do desenvolvimento crânio-facial estão completos em torno dos oito anos de idade. As deformidades instaladas nessa idade serão permanentes, levando a criança a necessitar de tratamento ortodôntico e fonoterápico.

Os principais motivos para uma criança se tornar uma respiradora bucal são o aumento das amígdalas e adenóide e a rinite alérgica.

Quando uma criança é incapaz de manter uma respiração nasal adequada, ocorrerá uma seqüência de eventos que deflagram várias complicações como otites de repetição, infecção de vias aéreas superiores recidivantes, sinusites de repetição - nos casos mais graves, até hipertensão arterial e alterações pulmonares e cardíacas. Ao respirar pela boca, a criança promove uma alteração na posição anatômica da cabeça. Ocorre um deslocamento do pescoço para frente, as vértebras cervicais e torácicas acentuam sua curvatura e os ombros ficam rodados para frente. O que observamos é um efeito dominó, com alterações posturais de quadris, joelhos e pés.

Os respiradores bucais apresentam sono intranqüilo, podendo chegar à Sindrome da Apnéia Obstrutiva do Sono. Estudos recentes têm demonstrado que essas crianças podem inclusive apresentar dificuldades de memorização, alterações da concentração, do comportamento, dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar. No entanto, estudos já demonstram também a melhora no desempenho acadêmico após o tratamento do quadro obstrutivo.

Por essas razões, os pais devem se manter atentos à maneira como a criança respira, da mesma forma como eles se preocupam com o modo como ela anda, fala e aprende. Roncar e respirar de maneira “forte” não é normal. Imagine todas as adaptações que o corpo deve estar fazendo a fim de manter esse padrão anormal de respiração e as conseqüências que isso pode trazer.

Maria do Carmo Bertero
Otorrinopediatra

Voltar


POR QUE A CRIANÇA NÃO DEVE RESPIRAR PELA BOCA?
Somos uma clínica com foco em prevenção e excelência no tratamento de adultos e crianças