CRIANÇA NÃO DEVE FICAR PREOCUPADA
A infância deveria ser a época mais relaxada da vida. Mas o número de crianças ansiosas aumentou 60% em uma década no Brasil. Como perceber – e tratar – o distúrbio
As crianças de hoje mostram-se mais inseguras sobre seu futuro, confiam menos em si próprias e demonstram medo de não ter controle sobre fatores externos.
O transtorno é potencialmente grave. Em suas formas mais severas, a ansiedade pode afetar o raciocínio, a habilidade de tomar decisões, a percepção de seu ambiente, o aprendizado e a concentração. Além disso, vem se formando entre os médicos o consenso de que muitas desordens da vida adulta, desde dificuldades de relacionamento até depressão, têm suas primeiras manifestações na infância- e em muitos casos poderiam ser evitadas com tratamento precoce.
A orientação aos pediatras é que eles considerem essa possibilidade no diagnóstico, diz Eduardo da Silva Vaz, presidente da SBP. Ele afirma que crianças "terceirizadas" são mais propensas a sofrer ansiedade por causa da separação. "Hoje as mães trabalham e muitas costumam deixar os filhos com babás. Quem tem filho tem que saber que nos primeiros anos de vida é essencial ter tempo para ele".
De acordo com estudos internacionais, em 80% dos casos um menino ansioso vira um adulto deprimido. Os médicos também apontam uma tendência social. Com 5,6 anos, eles já estão se preparando para os vestibulinhos. A nota média nas escolas subiu e existe uma cobrança maior por desempenho.
As crianças estariam, hoje, mais expostas a discussões sobre dinheiro, briga dos pais, conflitos no trabalho ou na sociedade. Sem maturidade para saber que estão protegidas, as crianças fantasiam perigos.
Há, porém, a opinião oposta. "As crianças de hoje são protegidas demais", diz a filósofa e escritora Tânia Zagury. Para Tânia, a ansiedade é fruto do imediatismo que tomou conta da sociedade.
Pesquisas mostram que 90% das crianças entre 2 e 14 anos têm pelo menos um temor específico. Até 2 anos, pode ser o medo de separar-se dos pais ou o susto com barulhos fortes. De 3 a 6 anos, os mais comuns são os medos de seres imaginários ou do escuro. Entre 7 e 16 anos, os temores podem ser de se machucar, ir mal na escola, desastres naturais.